Autoras: Bárbara Castro, Mariana Miggiolaro Chaguri
Tornaram-se amplos e recorrentes os debates e as reflexões a respeito da sobrecarga de
trabalho enfrentada por mulheres durante o isolamento social, medida adotada em diferentes partes
do mundo como estratégia para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Temas como divisão
do trabalho doméstico e do cuidado com os membros da família (crianças ou não) tornaram-se
objeto da reflexão de especialistas em diferentes áreas e campos do conhecimento, bem como foram
verbalizados por diferentes mulheres em intervenções ou relatos mais ou menos públicos.
Em todos os casos, esteve em questão debater e refletir sobre os impactos cotidianos das
associações – simbólicas e materiais – entre o feminino e o cuidado. Para abordar a questão,
recortamos a sobreposição entre tempos e espaços de trabalho de professoras e pesquisadoras
no momento em que aulas, pesquisas e demais atividades administrativas das universidades e
dos institutos de pesquisa estão se desenvolvendo remotamente, arremedando uma situação de
normalidade, numa tendência que, ao menos no Brasil, marcará o ano de 2020.
O extraordinário da pandemia, expresso tanto no isolamento social quanto no trabalho
remoto, tem nos colocado diante do ordinário das assimetrias das relações de gênero numa
dupla frente: o cotidiano das atividades de ensino, pesquisa e administração nas universidades; e a dinâmica própria da produção do conhecimento científico. Enquanto em contextos
ordinários, mulheres na ciência lidam com ambientes mais ou menos hostis no que se refere ao
assédio moral ou sexual, além de enfrentarem uma sobrecarga de trabalho administrativo em
posições menos prestigiosas da burocracia universitária5
, por exemplo, as medidas de
isolamento social para o enfrentamento da pandemia do Covid-19 incidiram exatamente na
ambiguidade da posição de mulheres: entre a casa e a universidade; entre o trabalho de cuidado,
o trabalho emocional e o trabalho intelectual.
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