Autoras: Diogivânia Maria da Silva; Albenise de Oliveira Lima
Segundo pesquisas publicadas por Diniz (2004), o acúmulo de atividades desempenhadas pela mulher constituiu um importante fator de liberdade, mas também de risco. Por um lado, o trabalho remunerado possibilitou autonomia e permitiu à mulher uma maior participação no consumo de bens e de serviços. Por outro lado, o excesso de atividades culminou numa maior vulnerabilidade da sua saúde, especialmente a saúde mental. Nessas pesquisas, Diniz aponta três fatores principais de vulnerabilidade para a mulher atual: o empobrecimento da população feminina, a violência, e as múltiplas jornadas de trabalho. Esse acúmulo de atividades representa riscos e prejuízos, e é fruto dos estereótipos e papéis atribuídos à mulher (Couto-Oliveira, 2007).
De acordo com Rocha-Coutinho (2003, p. 57), embora se encontre um número expressivo de mulheres no mercado de trabalho, a mulher atual – independente de sua condição socioeconômica – “ainda oscila muito entre os dois modelos femininos a que esteve exposta: a “boa” mãe, que sobrepõe a família a qualquer outra atividade […], e a profissional, competente e independente”.
Desse modo, apesar dos discursos modernizantes encontrados nas mulheres da atualidade, percebe-se uma cobrança demasiada, em relação a si própria e às suas vidas familiares. Seguindo essa linha de raciocínio, Rocha-Coutinho (2003, p. 54) afirma: “parece, assim, que, ainda hoje, é na interseção carreira-família que vão se configurar os maiores impasses enfrentados interna e externamente por grande parte das mulheres em seu percurso singular de atuação nos mundos público e privado”.
Pensando nessas questões que acompanham a mulher, a Fundação Perseu Abramo (2001) realizou pesquisa com mostra representativa da população feminina. Nela, analisouse a mulher brasileira nos espaços publico e privado – como vivem e o que pensam as brasileiras no início do século XXI. Observaram-se os modos de viver da mulher atual, e foi traçado, entre outros aspectos, um perfil sócio-demográfico da mulher brasileira: as percepções de suas condições e problemas atuais; seus conceitos acerca do feminino e do masculino; sua participação na cultura e na política; suas expectativas e nível de satisfação com a vida; o trabalho doméstico e o remunerado.
Dificuldades e excesso de responsabilidades, atribuídas principalmente à dupla jornada de trabalho, o doméstico e o remunerado, são lembrados por 11% como definidores da situação atual da mulher. Outros componentes negativos apontados são as discriminações no mercado de trabalho, tanto de funções como de salários e o preconceito social que lhes reserva discriminações e um lugar inferior em relação aos homens. E uma maior exposição à violência (Fundação Perseu Abramo, 2001, p. 5).
Chama atenção o conflito de ideias nessas mulheres: ao mesmo tempo em que apontam as duplas jornadas de trabalho e a responsabilidade com os filhos como uma das situações mais negativas atribuídas à mulher, deposita na possibilidade de maternagem uma realização simbólica de seus melhores aspectos. Como diz Priore (2001), nota-se, nesses discursos, uma coexistência de novas e antigas for-mas de atuação (identidades!) permeadas de prazer e de culpa.
Outro dado verificado na pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2001) foi que, se pudessem escolher livremente, cerca de metade das mulheres optariam por ter uma profissão, trabalhar fora, e dedicar menos tempo às atividades domésticas e da família. Todavia, 38% delas prefeririam, se fosse possível, dedicar-se mais às atividades domésticas e à família, deixando o trabalho fora de casa em segundo plano.
Sobre a divisão das tarefas domésticas com os companheiros, 87% delas concordam que deveria haver maior participação masculina. E, na existência de filhos pequenos, aparece uma contradição, pois 86 % delas permaneceriam em casa se pudessem, enquanto o homem trabalharia fora e os filhos cresciam. Esse desejo, segundo a mesma pesquisa, inviabilizaria a manutenção econômica da família.
De todas as regiões brasileiras, a Região metropolitana do Recife, apresenta uma peculiaridade com o maior percentual de famílias chefiadas por mulheres e com ausência de companheiro.
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