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Paternidade em tempos de mudança

            Autoras: Ana Cristina Pontello Staudt, Adriana Wagner 

As relações que se têm estabelecido na contemporaneidade emergem num contexto de pós-modernidade, de globalização, da relativização do conhecimento, da fluidez dos conceitos e dos valores. Como lidar com esse contexto mutante em nosso dia-a-dia na relação com os filhos, com os pais, com os amigos, com o trabalho e com tantas outras formas de interação tão fundamentais? Esse parece ser um dos desafios essenciais da atualidade. Diante desse panorama, buscaremos refletir sobre o papel do homem imerso nessa complexidade, mais especificamente, desse homem como pai, na relação que ele estabelece na dinâmica familiar. Nesse sentido, levantamos as seguintes questões: Será que existe de fato um “novo homem” e consequentemente um “novo pai”? De que forma as relações familiares vêm configurando estes ditos novos papéis? À luz do referencial ecológico-sistêmico, considera-se que a paternidade é construída na inter-relação de aspectos macro e microssistêmicos do contexto socio-histórico-cultural em que se encontra. Sendo assim, é importante ressaltar que a família está diretamente ligada aos processos de transformação da cultura, participando da mesma fluidez e fragmentação da sociedade contemporânea. Famílias divorciadas, recasadas, adotivas, monoparentais, homossexuais, chefiadas por homens ou mulheres, produções independentes, entre tantas outras configurações, vêm perfilando também a família de uma maneira cada vez menos uniforme e mais complexa. Vale destacar que já não podemos falar em família, no singular, mas sim no conceito de famílias, considerando sua pluralidade e diversidade (GRACIA; MUSITO, 2000).Ao refletirmos sobre esse contexto, é imprescindível mencionar as progressivas mudanças do papel feminino nas últimas décadas e a importância desse fenômeno nas relações atuais, que tem sua reverberação cada vez mais ampliada. O movimento feminista, que teve como uma de suas consequências a entrada da mulher no mercado de trabalho, é um importante fator nestas mudanças familiares e sociais, em que espaços tradicionalmente masculinos estão cada vez mais ocupados pelas mulheres. Segundo dados do IBGE1, elas já são 45% da população economicamente ativa no País. O fato de a mulher não estar mais restrita ao mundo doméstico e ter conquistado maior liberdade sexual veio de encontro aos arranjos tradicionais da organização social e familiar e, certamente, vem alterando comportamentos (OLIVEIRA; PELLOSO, 2004). Da mesma forma, nos encontramos com as novas demandas do papel masculino. Fala-se em um “novo homem”, mais participativo na vida afetiva e familiar, dividindo com a mulher os âmbitos público e privado, em que as concepções de homem ligadas à macheza, virilidade e força vêm sendo fortemente questionadas (BADINTER, 1986; PARKE,1998; UNBEHAUM RIDENTI, 1998, 2001; MORGAN, 2004). Essa nova expressão do papel masculino aparece como uma das transformações importantes nas relações parentais da família contemporânea, e o exercício da paternidade tem acontecido de maneira cada vez mais participativa. Com base nessas constatações, passamos a refletir sobre o lugar do homem-pai neste complexo contexto.

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